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O ideal ilusório do Perfecionismo

Pessoa a escrever com caneta de tinta castanha em folha branca, praticando caligrafia artística

Faço e refaço uma tarefa imensas vezes, demoro a entregar um projeto porque ainda não está como eu quero, após uma reunião fico a pensar incessantemente no que eu disse lá dentro, critico-me duramente quando falho… soa-te familiar? Estes são alguns dos comportamentos das pessoas perfecionistas.

O perfecionismo é antes de mais, um traço de personalidade caraterizado pelo desejo de realizar tarefas de forma perfeita e pela tendência de estabelecer padrões de desempenho muitíssimo elevados e rígidos, atitude autocrítica e não aceitação de falhas.

As pessoas perfecionistas têm uma atenção seletiva aos erros, sabias? Vêem todos os erros, mas dificilmente olham para o que está bem feito. Dificilmente ficam satisfeitas com o seu próprio desempenho. E isto é um esforço esgotante…

É como cair num loop eterno entre a busca da perfeição e a frustração, deceção e irritabilidade que chega logo depois de perceber ou sentir que não atingiu a perfeição.

E porque isto acontece? Porque perseguir a perfeição é como tentar alcançar uma miragem. Simplesmente porque a perfeição não existe!

Repara que os padrões de perfeição que podes estabelecer para ti, podem ser muito distintos dos padrões expectáveis para quem te rodeia.

Colocas padrões excessivamente elevados, cobras-te para atingir esses padrões e acabas a concentrar toda a tua energia e atenção na falha ou no medo de vir a falhar. E, ao atribuíres um peso tão grande à falha, vais fazer tudo para a evitar, o que por sua vez te levará a uma preocupação excessiva, constante e muitas vezes paralisante e aí… vem o erro… e dás por ti mergulhada/o em culpa, autocrítica e punição. O que ganhas com este ciclo vicioso? Uma sobrecarga de exigências, preocupação excessiva com os detalhes, expectativas inalcançáveis e frustração… muita… ansiedade… e ali mais à frente… esgotamento.

Até porque se esperarmos ter sempre tudo perfeito para nos sentirmos satisfeitos connosco e com quem nos rodeia, serão muito raros os momentos de felicidade e bem-estar, não concordas?

Quando é que o perfecionismo se torna um problema?

O perfecionismo pode ser classificado em:

  • Normal, adaptativo ou saudável, quando a pessoa possui motivação e determinação para realizar as tarefas de forma bem feita;
  • Mal-adaptativo ou nocivo, em que a pessoa possui um padrão muito alto de perfeição, sendo muitas vezes necessário realizar a mesma tarefa várias vezes porque julga não estar perfeito, podendo gerar frustração, irritabilidade, ansiedade ou depressão.

Pode então tornar-se um problema quando existe um comprometimento da funcionalidade no dia-a-dia, desgaste emocional e físico, sempre que a necessidade de perfeição é levada ao extremo, preocupação excessiva e medo de falhar.

Consequências negativas do perfecionismo

Ser perfecionista vai permitir-te ter uma redobrada atenção aos detalhes, determinação, vontade de crescer e motivação em busca da excelência.

Contudo, quando o perfecionismo está focado no evitamento do fracasso ao invés da busca da excelência, torna-se um ingrediente-chave para o aumento da ansiedade, frustração e esgotamento mental.

Como para tudo na vida, o equilíbrio é a ordem do dia.

O medo de não corresponder às expectativas (tuas e dos outros), medo de seres alvo de críticas e de falhar estão na base desse perfecionismo nocivo.

Principais caraterísticas das pessoas perfecionistas

  • Muito focadas nos detalhes
  • Muito organizadas, metódicas e minuciosas
  • Baixa tolerância ao erro
  • Autocrítica excessiva
  • Frustração
  • Alto nível de exigência consigo e com os outros
  • Medo de falhar
  • Dificuldade em trabalhar em grupo
  • Insatisfação com os resultados ou ações
  • Lidam mal com as críticas
  • Culpabilização e punição quando erram
  • Preocupação constante e permanente
  • Sentimento de incapacidade

10 Principais sinais de és perfecionista (concebido pelo prof. Flett)

  1. Não páras de pensar sobre um erro quando o cometes;
  2. Para ti ou é “perfeito ou nada feito”;
  3. És competitiva/o e não podes fazer menos ou pior do que os outros;
  4. Tens tendência a exigir a perfeição das outras pessoas;
  5. Dificilmente pedes ajuda para executar uma tarefa, com receio que seja interpretada com uma falha ou fraqueza;
  6. Continuas a persistir numa tarefa quando muitos outros já pararam ou desistiram;
  7. És um/a “caça-falhas”, que tende a corrigir as outras pessoas quando elas estão erradas;
  8. Estás sempre ciente das expectativas das outras pessoas;
  9. Tens muita dificuldade caso cometas um erro à frente de outras pessoas;
  10. Reparaste no erro que existe no título desta publicação e voltaste atrás.

Consequências negativas do perfecionismo

  1. Procrastinação: necessidade de executar tudo de forma perfeita leva a adiar tarefas;
  2. Autocrítica: autovalidação negativa intensa;
  3. Padrões rígidos e inflexibilidade: dificuldade em aceitar desvios dos seus próprios padrões;
  4. Medo de falhar: gera stress e bloqueio emocional;
  5. Ausência de satisfação na vida diária;
  6. Dificuldade em estabelecer laços emocionais;
  7. Pensamento extremista: "perfeito ou péssimo";
  8. Esgotamento psicológico: vigilância constante e autocrítica contínua.

Perfecionismo: Como encontrar o equilíbrio?

  1. Deixa as comparações de lado
  2. Lembra-te: a perfeição não existe
  3. “Antes feito que bem feito”
  4. Pára e percebe os danos que o perfecionismo está a causar na tua vida
  5. Não tenhas medo das críticas
  6. O todo é maior do que a soma das partes

Como pensa a mente perfecionista

  1. Visão em túnel: atenção apenas ao negativo;
  2. Rotulação: definir-se ou definir os outros por falhas específicas;
  3. Catastrofização: prever o pior cenário possível;
  4. Pensamento do “tudo ou nada”: visão extremista da realidade.

Porque somos perfecionistas?

  1. Educação rígida: valorização apenas da alta performance;
  2. Modelos parentais perfecionistas: modelagem desde a infância;
  3. Bullying ou abusos emocionais: cria autocrítica e busca por aprovação;
  4. Contexto cultural e profissional: pressão constante por excelência e sucesso.