Falar sobre ataques de pânico ainda levanta muitas dúvidas, medos e… mitos. Sim, há muito por desfazer — porque acreditar em ideias erradas sobre esta condição pode aumentar o sofrimento e atrasar a procura de ajuda. Vamos desconstruir?
- “Um ataque de pânico pode enlouquecer-me”
Durante um pico de ansiedade, é comum sentir que se está a “perder a cabeça”. Mas não estás a enlouquecer. Sensações como despersonalização (não te sentes tu mesmo) ou desrealização (o mundo parece estranho) são transitórias — e muito mais comuns do que se pensa. - “Só quem passou por traumas tem ataques de pânico”
Traumas podem ser um fator, sim — mas não são o único. A perturbação de pânico pode surgir sem um acontecimento traumático identificado. Vários fatores se combinam: predisposição genética, stress acumulado, funcionamento cerebral, entre outros. - “Faz mal ao corpo”
Sim, os sintomas são intensos: coração a disparar, falta de ar, tonturas… Mas nada disto representa perigo real para a saúde. O corpo está a reagir como se estivesse em risco — mas não está. Tudo volta ao normal. - “Sou anormal. Ninguém mais tem isto”
Errado. Só a nível mundial, estima-se que cerca de 280 milhões de pessoas lidem com perturbação de pânico. Em Portugal, estima-se que afete 16,5% da população em algum momento da vida. Não estás sozinho. Mesmo. - “É fraqueza ou falta de autocontrolo”
Spoiler: não é. Ataques de pânico não têm nada a ver com força de vontade. E se já tentaste “controlar” dizendo a ti mesmo para te acalmares — e isso piorou tudo — sabes como isso não funciona. Não é falta de força. É um mecanismo automático do corpo. - “Só acontece quando estou acordado”
Nem por isso. Os ataques de pânico também podem surgir durante o sono — e isso pode ser ainda mais confuso e assustador. Sim, é raro, mas é real. - “Isto vem de uma infância infeliz”
É uma teoria antiga… e falsa. Infâncias difíceis podem aumentar vulnerabilidades emocionais, mas não são a causa direta da perturbação de pânico. Muitos adultos com infâncias saudáveis também a desenvolvem. - “Se começo medicação, é para sempre”
Não necessariamente. A medicação pode ajudar a aliviar sintomas, mas não trabalha a raiz do problema. É uma ferramenta, muitas vezes temporária, usada enquanto a pessoa aprende estratégias eficazes — como as desenvolvidas em psicoterapia. - “Os ataques de pânico aparecem do nada”
Embora pareçam surgir “sem aviso”, normalmente existe um gatilho — mesmo que discreto. Pode ser stress acumulado, alterações hormonais, hipervigilância em relação a sensações físicas, ou até padrões de respiração (hiperventilação) que o corpo interpreta como sinal de perigo. - “Não há nada a fazer”
Felizmente, isso é um mito enorme. Há sim. Psicoterapia, educação emocional, técnicas de respiração, mudanças de estilo de vida… Existem formas reais e eficazes de aprender a lidar com a ansiedade e recuperar o controlo. A ajuda existe. E funciona.